Risco, Perigo e Segurança
Fonte: Mountaineering Council of Scotland, UK, 2004.
Quanto se trata de atividades esportivas ou recreativas, nos ambientes natural, rural ou urbano, é frequente uso dos termos Risco, Perigo e Segurança, faz-se necessário esclarecer seus significados, assim como outros termos e expressões relacionados para se estabelecer uma base de discussão.
O Estudo do Risco está no equilíbrio entre Risco e o Desafio da Aventura.
Há uma crescente discussão que considera que a atual questão está na redução do risco e na gestão da segurança no campo médico, nas iniciativas e nas aventuras de forma a comprometer o normal desenvolvimento de atividades e procedimentos. Este é um importante questão a ser analisada detalhadamente para poder subsidiar estratégias de controle e redução de risco.
Perigo
“Perigo são os tipos de acontecimento que causam ou tem o potencial de causar algum tipo de dificuldade, lesão ou acidente”.
Wharton, N., Journal of Adventure Education and Outdoor Leadership.
“Perigo é tudo aquilo que pode machucar um individuo”.
Health and Safety Executive (1999).
De uma forma geral, o perigo tem por exemplo alergias, doenças causadas por lixo doméstico ou hospitalar, lesões em virtude de trabalho próximo a rodovias ou exposição a intempéries.
Isso nos leva a associar que um ambiente perigoso é aquele onde é difícil de se ter assistência ou onde há falta de procedimentos de primeiros socorros.
No contexto do ambientes natural, um exemplo de perigo é um rio de águas rápidas. Uma pessoa que tenta cruzá-lo corre o perigo de ser arrastado se o rio não der pé ou pode ficar preso a alguma árvore submersa, podendo vir a morrer afogado.
Na Ambiente Natural pode-se entender Perigo como:
“Na natureza, perigo é uma situação ou um conjunto de circunstâncias que podem machucar pessoas, como por exemplo, um rio caudaloso, um banco de corais submerso, uma tempestade de raios, etc...”
O perigo pode ser ou não conhecido. Um montanhista experiente em caminhadas na estiagem, pode ter problemas na estação das chuvas quando ocorrem as “cabeça d’água”, que podem trazer problemas ao caminhar em ravinas.
Isso nos leva a considerar que um perigo desconhecido, não previsível ou não identificado apresenta um risco maior do que aquele conhecido.
Risco
Perigo é definido em termos absolutos - por exemplo: encostas íngremes, facas afiadas, eletricidade, águas rápidas - mas eles tem significado diferente e acarretam diferentes graus de risco dependendo do contexto e do individuo que se confronta com o perigo.
“Risco é a probabilidade de um perigo causar dano”.
Wharton, N. (1995), Journal of Adventure Education and Outdoor Leadership.
“Risco é a probabilidade, alta ou baixa, de alguém se machucar numa situação de perigo”.
The Health & Safety Executive (1998)
“Risco é a possibilidade de confrontar perigo ou sofrer dano ou perda”.
The Oxford English Dictionary
“Risco é o potencial de perder algo de valor. A perda pode significar dano ou perda física, mental, social ou financeira. O risco cria insegurança”.
Priest, S. (1990), State College, PA: Venture Pub.
“Risco é a probabilidade de alguém se machucar por um perigo. Uma vez identificado, o perigo pode ser avaliado e quantificado”.
Putnam, R. (2000). Association for Outdoor Learning.
A associação médica inglesa (British Medical Association) alerta que tudo que fazemos ou que é feito por nós, traz algum risco para nossa saúde e bem estar, não existindo risco zero ou segurança absoluta.
O perigo pode apresentar um nível alto ou baixo de risco para uma pessoa dependendo, por exemplo, quão competente essa pessoa é ao lidar com o perigo. Ou seja, o risco depende do indivíduo. O risco é função de como um individuo “vê” ou avalia a situação.
Isoladamente, risco psicológico é relacionado com medo, por exemplo, a experiência de sozinho ficar perdido à noite em local desconhecido.
O risco social é percebido quando alguém sente que está agindo de forma socialmente reconhecida como normal ou por quando se pede uma pessoa tímida a tomar uma posição de liderança ou falar em público.
O Risco é função de três fatores:
1. Probabilidade: refere-se ao número de vezes um acidente pode acontecer a alguém num determinado período de tempo.
2. Gravidade: refere-se ao dano causado por determinado acidente (maior = morte, menor = nenhuma lesão).
3. Frequência: refere-se à quantidade de indivíduos envolvidas em uma atividade sujeitos a sofrerem lesões num determinado período de tempo.
Riscos Absoluto, Real e Percebido
A British Medical Association sugere que a percepção de risco das pessoas em geral não se relaciona com o risco real. As pessoas reagem ao perigo na medida que são percebidos.
“Risco Absoluto é o maior nível de risco numa determinada situação (sem controle da segurança)”.
Priest, S. (1990), State College, PA: Venture Pub.
“Risco Real é o verdadeiro risco que existe num determinado momento”.
Priest, S. (1990), State College, PA: Venture Pub.
“Risco Percebido é aquele em que um indivíduo avalia subjetivamente o risco real em qualquer momento, que difere de pessoa a pessoa e pode não estar relacionado com o risco real ou absoluto”.
Ewert, A. & Hollenhorst, S. (1989). Journal of Leisure Research.
Exemplificando:
O Risco Percebido é aquele que parece ser arriscado mas de fato está sob controle - por exemplo “escalada em corda fixa” (top rope climbing).
O Risco Real é aquele que é de fato arriscado e não é possível ser controlado - por exemplo queda de rochas, avalanches.
Uma preocupação de educadores de atividades ao ar livre é de como estruturar atividades que contenham certo grau de risco que não causam lesões, mas que podem provocar aprendizado, desafio e motivação.
Uma forma de fazê-lo é criar uma situação de risco percebido que seja significante e não desmereça a natureza da atividade em questão. Uma dificuldade complexa é aquela em que a percepção do risco difere de pessoa para pessoa, que cria dificuldades práticas para alguém conduzir um grupo de praticantes.
O ideal é que todos atuem dentro de suas “Zonas de Desafio”, sem ficar em sua “Zona de Conforto” ou cair na “Zona de Pânico”.
Avaliação de Riscos
Nos últimos tempos a avaliação de riscos assumiu uma grande importância, particularmente na medida que afeta trabalhadores e ambientes de trabalho.
O aumento dos processos jurídicos consequência de acidentes com funcionários e clientes, enfatiza a necessidade de se olhar com cuidado de como lidar com riscos vis-à-vis segurança, controle e avaliação do risco ocasionado por perigo no ambiente de trabalho.
Vale ressaltar que no turismo de aventura, na grande maioria dos casos, o “ambiente de trabalho” é o meio natural ou rural, onde os “funcionários” são guias e condutores.
Avaliação de riscos está fortemente relacionada com a avaliação com o nível de risco associado com um perigo em particular ou a conjunto de riscos e uma ponderação de até que ponto precauções estão sendo tomadas para prevenir acidentes ou lesões.
Para exemplificar, podemos dizer que a avaliação de risco de um determinado grupo de adultos jogando um partida amistosa de futebol significar um perigo mínimo, com pouco risco para fatalidades ou fraturas. Em contraste, a avaliação de riscos de principiantes praticando rapel poderá abarcar maior perigo e um grande risco para a integridade física e segurança dos participantes. Isto poderá implicar ao organizador ou líder em adotar a uma variedade de medidas para assegurar que ninguém venha a se machucar.
Se tivermos em conta que a quantificação do risco é incerta e, uma vez quantificado, importantes decisões e medidas terão de ser tomadas sobre a possibilidade da sua redução e sobre o reconhecimento de sua existência, mesmo que reduzido. Um importante ponto a se considerar são os fatores econômicos nas avaliações custos x benefícios.
Os 5 passos para a Avaliação de Risco
É comum desmembrar a avaliação de risco num número de partes identificáveis, onde se sugere 5 passos para a avaliação de risco:
- Identificar dos perigos existentes;
- Listar os indivíduos que podem se ferir e como;
- Avaliar o grau de risco associado com cada perigo
- Avaliar as decisões sobre o que deve ser feito (Protocolos Operacional / Segurança) para reduzir estes riscos a níveis aceitáveis (Gestão do Risco);
- Atualizar e revisar periodicamente todas as avaliações registradas.
É importante que se elabore protocolos operacionais e de emergência para se obter níveis de segurança satisfatórios, em termos de estabelecer responsáveis hierárquicos e procedimentos operacionais e de emergência.
Alguns fornecedores de cursos e atividades ao ar livre - especialmente os que atuam em atividades de “aventura educacional” para menores de 18 anos - são obrigados, por lei, a adotarem procedimentos definidos pela Adventure Activities Licensing Authority - AALA (The Activity Centres - Young Persons’ Safety - Act, 1995).
Nestes casos a avaliação dos riscos são analisadas no contexto em que as atividades ocorrem e foca nos perigos que se não gerenciáveis, evitados ou previstos, podem resultar em morte ou lesões graves. Esses procedimentos se aplicam a instrutores e participantes.
Dave Bunnell © www.en.wikipedia.org |
Gestão do Risco
“Gestão ou Manejo de Riscos deve ser entendido como a forma pela qual riscos são administrados ou manejados (i.é. reduzidos) uma vez que perigos estejam identificados e riscos quantificados. É a etapa operacional da avaliação de riscos”.
Riscos podem ser manejados de várias formas, mas 2 abordagens são essenciais:
1. Evitando Riscos (Risk Avoidance) - nessa abordagem procura-se reduzir os riscos evitando-se ou pela remoção do perigo.
Por exemplo, se acharmos que uma viagem de dois dias possa ser fisicamente muito difícil para um grupo fora de forma, acarretando erros de navegação ou fadiga, uma decisão será de reduzir para um só dia de caminhada pesada, em terreno difícil, ou decidir que o programa seja feito em três dias. Ou ainda, se possível, alterar o roteiro.
2. Reduzindo Riscos (Risk Reduction) - essa abordagem, em geral mais apropriada, procura-se reduzir os riscos de varias formas tais como protegendo pessoas com maior eficácia, supervisando criteriosamente ou modificando atividades.
Por exemplo, no caso de um grupo que atinge o topo de uma escalada em rocha e está pronto para a descida por uma trilha íngreme. O declive se torna um perigo tão logo a descida se inicia e vários fatores podem aumentar o risco associado: pode começar a chover e o piso ficar (mais) escorregadio; a trilha pode ter o piso alternado entre terra, vegetação ou rocha fragmentada; pode começar a escurecer (sobretudo em dias de inverno) ou participantes menos preparados podem começar a reclamar ou mostrar sinais de cansaço ou frio... O risco total pode ser reduzido se o condutor ou líder tomar (e controlar) algumas decisões: ordenar a diminuição da velocidade de descida, indicar a troca o uso de calçado apropriado ao terreno ou de vestuário adequado ao clima, ordenar o uso de cordas de segurança, indicar o uso lanternas, etc. Ao atuar desta forma, o perigo (e o desafio) continua, mas os riscos podem ser reduzidos a níveis aceitáveis.
Sugere-se 4 princípios para ajudar no processo de redução de riscos:
- Procurar assistência de especialistas, sempre que possível;
- Adotar boas práticas em todos aspectos técnico-operacionais;
- Participantes “em risco” devem estar cientes antecipadamente, que se consegue se uma eficaz avaliação e redução de riscos a níveis aceitáveis;
- Participantes “em risco” devem ser informados detalhadamente sobre o nível e natureza dos riscos a que serão submetidos.
“Escalada e montanhismo são atividades perigosas, com risco de acidentes e morte. Praticantes devem reconhecer os riscos e estar atentos e responsáveis por seus atos e suas consequências."
Union Internationale des Associations d’Alpinisme - UIAA
A importância da gestão ou manejo do risco está no processo de sua avaliação que envolve a avaliação da competência e experiência dos condutores e dos participantes e a complexa interação destes com fatores externos e o ambiente (operacional). Ou seja, risco é uma combinação entre fatores humanos e ambientais.
Por exemplo, na canoagem, fatores ambientais pode incluir pedras, águas rasas, curvas, desníveis abruptos ou árvores caídas ou submersas. Fatores humanos podem incluir inexperiência do canoísta, tipo de embarcação usada, tamanho do grupo, etc. É responsabilidade do líder ou condutor avaliar como esses fatores se combinam e a que nível, para decidir a estratégia de fazer a gestão adequada dos riscos, a cada instante.
Segurança
“Segurança é estar seguro, livre de perigo ou riscos, de forma a não causar perigo”
Concise Oxford Dictionary (1969)
Segurança não é um algo subjetivo - é um tema multifacetado que envolve vários fatores, tais como vestuário e equipamentos, responsabilidades individuais e de liderança, legislação, comando, atitudes, competência e procedimentos técnicos.
A promoção da segurança se faz com a intensa e constante expansão e divulgação do conhecimento dos perigos e a adequada redução dos riscos.