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Parque do Mangue da Ilha do Itu

Corumbê, Baia de Paraty
Coordenação: Roberto M.F. Mourão, Albatroz Planejamento - email: roberto@albatroz.eco.br

PROPOSTA EM DESENVOLVIMENTO

 

Anexo I: Manguezais


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Manguezal, mangue, mangrove ou mangal

Manguezal, mangue, mangrove ou mangal é um ecossistema costeiro de transição entre os ambientes terrestre e marinho, zona úmida característica de regiões tropicais e subtropicais.

mangrove underwater rootsAssociado às margens de baías, enseadas, barras, desembocaduras de rios, lagunas e reentrâncias costeiras, onde haja encontro de águas de rios com a do mar, ou diretamente expostos à linha da costa, está sujeito ao regime das marés, sendo dominado por espécies vegetais típicas, às quais se relacionam outros componentes vegetais e animais.

Ao contrário do que acontece em praias arenosas e dunas, a cobertura vegetal do manguezal instala-se em substratos de vasa de formação recente, de pequena declividade, sob a ação diária das marés de água salgada ou, pelo menos, salobra.


Ocorrência

O ecossistema incide em regiões tropicais e subtropicais, no encontro de rios e mares, sobretudo nas costas do Atlântico e Pacífico. Estima-se que, em todo o planeta, existam cerca de 172.000 km² de manguezais. Do total de mangues no mundo, cerca de 15%, ou cerca de 26.000 km², distribui-se pelo litoral do Brasil, desde o estado do Amapá até Laguna, em Santa Catarina.


cururupu manguezal solo detalheSolo

O solo do manguezal caracteriza-se por ser úmido, salgado, lodoso, pobre em oxigênio e muito rico em nutrientes. Por possuir grande quantidade de matéria orgânica em decomposição, por vezes apresenta odor característico, mais acentuado se houver poluição. Essa matéria orgânica serve de alimento à base de uma extensa cadeia alimentar, como por exemplo, crustáceos e algumas espécies de peixes.


Vegetação

O mangue é uma formação vegetal composta de arbustos e espécies arbóreas que ocorrem em áreas de lagunas e restingas ao longo de todo o litoral. Nessa formação vegetal predominam troncos finos e raízes aéreas e respiratórias (ou raízes-escora), adaptadas à salinidade e a solos pouco oxigenados.

Em virtude do solo salino e da deficiência de oxigênio, nos manguezais predominam os vegetais halófilos (do grego halo - sal + filo - amigo - os organismos extremófilos que podem desenvolver-se em ambiente com muito altas concentrações de sal), em formações de vegetação litorânea ou em formações lodosas. As suas longas raízes permitem a sustentação das árvores no solo lodoso.

Rhizophora mangle semnomeAs principais espécies (lenhosas) de árvores típicas deste ecossistema são:

  • Mangue Vermelho (Rhizophora mangle), próprio de solos lodosos, com raízes aéreas;
  • Mangue Branco ou Siriúba (Laguncularia racemosa), encontrado em terrenos mais altos, de solo mais firme, associado a formações arenosas;
  • Mangue Preto ou Canoé (Avicennia schaueriana, Avicennia germinans, Avicennia nítida);
  • Mangue-de-Botão (Conocarpus erectus)
  • Abaneiro (Clusia fluminensis)

No mangue preto e no mangue branco, as raízes, chamadas pneumatóforas, ficam com uma parte da raiz fora do solo, de forma que, durante as marés cheias, as extremidades das raízes ficam expostas ao ar, para conseguir o oxigênio que não encontram na água. No mangue vermelho as lenticelas do caule principal, permitem as trocas gasosas. Esta adaptação é fundamental para evitar assoreamentos e erosões

Existem ainda, grupos de plantas associadas ao manguezal que ocorrem principalmente nas regiões marginais ou de borda interior. Estas espécies não são exclusivas do ecossistema manguezal, porém são tolerantes à diferentes teores de salinidade.

mangue hibiscoFormam grupos pouco densos, porém, em algumas regiões alteradas, naturalmente ou não, a floresta pode estar dominada por um dos grupos abaixo:

  • Samambaia do Mangue (Acrostichum)
  • Hibiscos (Hibiscus sp.)
  • Gramíneas (Spartina sp.)

Algumas espécies chegam a 20 metros de altura. Uma árvore de mangue leva cerca de cinco anos para crescer e reproduzir. Além destas espécies, existem grupos de plantas que ocorrem, principalmente às margens ou na borda interior dos manguezais.

Outros grupos vegetais, como algas, liquens, orquídeas e bromélias (gravatás), ocorrem como epífitas nas árvores de mangue. As samambaias, por exemplo, não são espécies exclusivas de mangue, mas são tolerantes aos diferentes teores de salinidade que ali existem. As bromeliáceas, orquidáceas e os líquens também estão presentes, porém são epífitas que vivem sobre as árvores de mangue, sem utilizar os nutrientes das árvores hospedeiras.

cravo do matoEspécies epífitas são aquelas que vivem sobre vegetais. Podem ser animais que vivem associados à um vegetal ou plantas que vivem sobre outra planta, neste caso, são chamadas de epífitas.

Animais e plantas epífitos podem ser parasitas ou não. Os primeiros são aqueles que se aproveitam de elementos nutricionais, prejudicando o desenvolvimento ou até mesmo levando a planta hospedeira à morte. Mas existem aqueles que se utilizam do organismo somente como substrato para fixação, sem alterar o metabolismo, estes não são considerados parasitas.

Exemplos são as bromélias e orquídeas que vivem sobre plantas do estrato arbóreo ou arbustivo. Nenhuma delas causa algum mal à planta hospedeira, a não ser que seja por excesso de peso, o que pode provocar a quebra de um galho, mas os seus nutrientes são obtidos a partir do meio e não da planta que as hospeda.


Fauna

manguezal Guaiamu Cardisoma guanhumi semnomeA fauna dos manguezais representa significativa fonte de alimentos para as populações humanas. Os estoques de peixes, moluscos e crustáceos apresentam expressiva biomassa, constituindo excelentes fontes de proteína animal de alto valor nutricional. Os recursos pesqueiros são considerados como indispensáveis à subsistência das populações tradicionais da zona costeira.

A riqueza biológica dos ecossistemas costeiros faz com que essas áreas sejam os grandes "berçários" naturais, tanto para as espécies características desses ambientes, como para peixes e outros animais que migram para as áreas costeiras durante, pelo menos, uma fase do ciclo de sua vida.

A fauna do manguezal é constituída principalmente por peixes, moluscos e crustáceos, porém diversos animais usufruem do ambiente, desde formas microscópicas até répteis e mamíferos. É um local abrigado, de pouco movimento hídrico, se comparado à um costão rochoso, sendo assim, tornou-se um local propício ao desenvolvimento e abrigo de organismos jovens.

Manguezal Robalo Centropomus undecimalis semnomepngMuitos dos animais que habitam os manguezais, não vivem toda a sua vida neste ambiente. Os camarões, por exemplo, ao nascimento da nova geração em alto mar, os indivíduos migram para dentro do manguezal e lá permanecem durante a fase de crescimento, passando de larvas à jovens e, então, voltam ao oceano.

Alguns animais sésseis permanecem a vida toda no manguezal, como é o caso dos sururus, taiobas, mariscos em geral e ostras. Estes organismos, como as plantas, também desenvolveram adaptações para suportar as variações diárias ambientais, principalmente a resistência à dessecação (falta de umidade na maré baixa) e aumento da salinidade (na maré cheia). Já os caranguejos, que possuem capacidade de locomoção, enterram-se em galerias que escavam no solo (na maré baixa) e sobem nos troncos e raízes das árvores (na maré cheia).

manguezal garca azul Egretta caerulea semnomePeixes como sardinhas, garoupas, tainhas, entre outros, também frequentam o manguezal para reprodução e alimentação. Existe espécies que passam toda a sua vida no estuário e outras que apenas completam seu ciclo reprodutivo ou de crescimento. A maioria dos peixes de interesse comercial dependem de alguma forma do manguezal para sua sobrevivência.

As aves mais comuns são as garças, os guarás, o colhereiro, o martim-pescador, entre outras. A partir do que foi dito, percebe-se que os manguezais são um refúgio natural para milhares de espécies, sendo considerado o berçário para organismos que vivem no estuário e no oceano. Anfíbios, répteis e mamíferos (mão pelada, lontra), usam o manguezal como refúgio, fonte de alimento e até para realizar o ritual de reprodução. Para as aves marinhas, o manguezal é um verdadeiro santuário, como local de reprodução, alimentação e descanso para aves migratórias.


Proteção Legal dos Biomas / Ecossistemas Manguezais

Diversos dispositivos constitucionais - Constituição Federal e Constituições Estaduais, assim como leis, decretos, resoluções, convenções, impõe uma série de ordenações do uso e/ou de ações em áreas de manguezal, ode se pode destacar:

  • Constituição Federal de 1988, artigo 225;
  • Lei Federal nº 9.605/1998, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente.
  • Código Florestal – Lei nº 4.771/1965.
  • Lei Federal Nº 7.661/98 - Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro;
  • Lei Estadual nº 9.931/1986 - Proteção das Áreas Estuarinas;
  • Resolução CONAMA nº 04/1985;
  • Decreto Federal nº 750/93, que dispõe sobre o corte, a exploração, a supressão de vegetação primária ou nos estágios avançado e médio de regeneração da Mata Atlântica.

Os manguezais são protegidos por Lei, e qualquer área de incidência é considerada de Área de Preservação Permanente (APP), segundo o inciso VII do artigo 4º da Lei Federal nº 12.651/2012.

 

Bioma Marinho, o mais desprotegido 

Na Amazônia foram observados, em relação à sua área proporcional, avanços expressivos na área recoberta por UCs: 26,2%, o desafio persiste para a maioria dos demais biomas, distantes da meta de 10% de proteção estabelecida pela Convenção Sobre Diversidade Biológica (CDB), sobretudo o bioma marinho, ainda permanece muito pouco protegido: apenas 1.5%.

Convenção Sobre Diversidade Biológica (CDB) - Decreto Legislativo nº 2, de 1994.

Em vigor desde dezembro de 1993, a CDB tem como objetivo estabelecer as normas e princípios que devem reger o uso e a proteção da diversidade biológica em cada país signatário. Dá as regras para assegurar a conservação da biodiversidade, o seu uso sustentável e a justa repartição dos benefícios provenientes do uso econômico dos recursos genéticos, respeitada a soberania de cada nação sobre o patrimônio existente em seu território. Foi assinada por 194 países. A Convenção reconhece que os ecossistemas, espécies e genes devem ser usados para o benefício dos seres humanos, de forma sustentável.

manguezal protecao biomas brasileiros grafico fundoWEB

 

Impactos Ambientais em Áreas de Mangue

Os principais fatores que causam alterações nas propriedades físicas, químicas e biológicas do manguezal são:

  • Aterro
  • Desmatamento
  • Queimadas
  • Construções de marinas
  • Deposição de lixo
  • Pesca predatória
  • Dragagens
  • Lançamento de esgoto e de efluentes industriais.


Aterros

Dentre as alterações provocadas pelo homem nos manguezais, o aterro é uma das mais comuns e uma das grandes responsáveis pelo desaparecimento de grandes extensões destes ambientes. Os aterros em áreas de manguezais estão na sua maioria associados à ocupação urbana, sendo praticados desde as classes desfavorecidas até às classes abastadas. Este fenômeno está ligado principalmente à valorização de áreas à beira-mar.

mangeuzal desmatamento descaracterizacao da area 5Um fator está associado à falta de informação da verdadeira importância ecológica e social dos manguezais. Aliados a este fator estão conceitos populares errôneos que historicamente estão ligados a estes ambientes como, por exemplo, serem os manguezais considerados como áreas de proliferação de mosquitos, fétidas e propícias para o lançamento de lixo e esgoto (!!!).

Um segundo fator está intimamente ligado ao anterior uma vez que, a partir do momento em que se ignora a importância dos manguezais, fica fácil aterrar estas áreas. Porém, quando se promove este aterro, esta área passa a ficar valorizada em função da sua proximidade com o mar propiciando a construção de empreendimentos imobiliários como condomínios, marinas, pousadas e hotéis. Este processo pode ser observado principalmente nos municípios da região sul do estado do Rio de Janeiro como em Mangaratiba, Angra dos Reis e Paraty.

Os danos que os aterros provocam sobre os manguezais são diversos:

  • Morte da maioria dos animais (crustáceos, moluscos e poliquetas) que vivem no sedimento, através de alterações de sua estrutura. Dependendo da espessura da camada de aterro nenhum animal consegue sobreviver;
  • Alteração do padrão de circulação das águas nos manguezais que podem em última instância provocar a sua perda;
  • Aceleração da sedimentação, a qual interferirá na reciclagem dos nutrientes e na troca de gases, devido ao entupimento das raízes, podendo causar a mortalidade no bosque;
  • Aumento da taxa de deposição de sedimentos (assoreamento) que pode reduzir a profundidade de rios, canais e estuários interferindo no ciclo de vida de inúmeros organismos.

 

Desmatamento

mangue desmatamentoO desmatamento em áreas de manguezais é uma das alterações ambientais mais antigas no Brasil, praticado desde o século XVI. Nesta época, o corte de árvores era provocado para obtenção de tanino, utilizada para tingir tecidos e em curtumes. O processo de colonização e ocupação das áreas alagadas promoveu o desaparecimento de lagoas e rios.

Desse modo, junto a estes ambientes aquáticos, grandes extensões de brejos e manguezais foram destruídas pela necessidade de se ter solo enxuto para instalação de moradias e outras benfeitorias, assim como a ação de diminuir os focos de proliferação de mosquitos.

O corte da vegetação de mangue, além de destruir a flora, expõe o sedimento ao sol provocando ressecamento e a salinização do solo resultando na morte de caranguejos e mariscos, assim como afetando a produtividade e a pesca de caranguejos, camarões e peixes. O desmatamento foi e é praticado com diferentes fins. A madeira de mangue é utilizada como combustível (carvão), para produção de cercas e construção de casas e currais de pesca.

 

Parque do Mangue da Ilha do Itu, Paraty


Ilha do Itu

 

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