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Plano de Desenvolvimento do Turismo Cultural de Paraty

Fase I: A Oferta Turística de Paraty

 

A situação da Oferta Turística de Paraty

Neste capítulo serão abordados os diferentes aspectos referentes à situação atual da oferta turística de Paraty, considerando os fatores histórico-sociais, as condicionantes da paisagem natural e cultural do município, o que permitirá determinar a potencialidade dos atrativos culturais e o grau de aproveitamento como produto turístico. Com este objetivo, será utilizada a metodologia de valoração dos produtos turísticos desenvolvida pela Chias Marketing e aplicada, com sucesso, em vários planos de desenvolvimento e promoção turística elaborados pela Consultoria para várias cidades em diferentes países.

A análise considera ainda as condições da acessibilidade, da comercialização e da promoção. Questões que interferem diretamente na percepção que o mercado e o consumidor final têm do produto turístico.

O Território

Localizado no extremo sul do Estado do Rio de Janeiro na fronteira com São Paulo, entre as duas maiores capitais brasileiras, Paraty está situada na Baia da Ilha Grande e faz divisa com os municípios paulistas de Ubatuba e Cunha e Angra dos Reis, pelo lado fluminense.

Por sua localização, a Vila de Paraty teve nos primeiros séculos de sua história uma importância estratégica no cenário econômico brasileiro. Nesta época foi entreposto comercial utilizado para a entrada de mercadorias e escravos, para o escoamento do ouro das Minas e posteriormente para o café do Vale do Paraíba.

A abertura de novos caminhos e a criação de rotas alternativas dentro do País reduziu a importância do porto e gradativamente isolou Paraty. Primeiro foi a implantação do caminho novo para as Minas, que diminuía o percurso entre as lavras e o Rio de Janeiro, depois foi a construção da estrada de ferro entre o Rio de Janeiro e São Paulo, passando pelo Vale do Paraíba para escoar a produção cafeeira. Esse contexto de isolamento geográfico durou aproximadamente 100 anos e teve como conseqüência direta o processo de estagnação econômica, mas garantiu também a preservação e a integridade do patrimônio cultural e natural do município.

Paraty panorama coqueiros RobertoMourao 2013Somente na década de 1970, a construção de um novo caminho, a rodovia Rio-Santos, permitiu a integração de Paraty no ambiente econômico da região e permitiu o acesso do público a um dos mais íntegros sítios históricos brasileiros e a maior área contínua preservada da Mata Atlântica do País.

A paisagem natural é outro diferencial de Paraty, dentre os cincos sistemas naturais brasileiros considerados Patrimônio Natural pela Constituição Federal, o município incluí três deles: a Mata Atlântica, a Serra do Mar e a Zona Costeira.

A época do Descobrimento a Mata Atlântica ocupava quase toda a faixa litorânea do Brasil, indo do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte, numa área de 1,3 milhões de quilômetros quadrado, equivalente a 15% de todo território nacional, atualmente o remanescente corresponde a 7,3% da área original.

Se o isolamento geográfico e a estagnação econômica impediram o crescimento de Paraty, por outro lado garantiram a preservação e a integridade de seus patrimônios naturais e culturais, elementos que a diferenciam de outras cidades brasileiras e que se constituí hoje em sua maior riqueza.

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O território paratiense abriga 5 unidades de conservação/proteção da Mata Atlântica, Área de Proteção Ambiental do Cairuçu, Área de Proetção Ambiental da Baía de Paraty, Estação Ecológica dos Tamoios, Estação Ecológica da Juatinga e Parque Nacional da Serra da Bocaína, conjunto inserido na Reserva Mundial da Biosfera, reconhecida pela Unesco em 1993. Mas a Mata Atlântica na região de Paraty também não escapou ilesa.

engenho cana movida boisNo final do século XVIII havia na vila mais de 150 engenhos e alambiques e boa parte da área do município se transformou em plantação de cana-de-açúcar. Hoje essa área foi naturalmente reflorestada formando uma mata secundária que cobre aproximadamente 80% do território paratiense. Os dados relativos ao estágio de conservação da Mata Atlântica indicam que em Paraty, encontram-se áreas de mata primária na Reserva Ecológica da Juatinga.

O Centro Histórico antes abandonado valorizou-se rapidamente e isso vem garantindo seu bom estado de conservação. Um inventário realizado pelo IPHAN em 2003 no âmbito do projeto "Cidades Históricas - Inventário e Pesquisa", mostrou que mais de 50% dos imóveis da região já tinham uso não residencial, o que de certa forma é coerente com a cidade entreposto comercial do passado.

Mas é necessário considerar que dos imóveis com destinação residencial, um grupo significativo se constitui como segundo domicílio, utilizados esporadicamente pelos proprietários. Na prática, um grupo representativo dos habitantes originais migrou para outras áreas de expansão da cidade.

Outro ponto de pressão é a valorização imobiliária nas regiões costeiras, onde normalmente ocorrem dois processos: a “venda” formal ou de “gaveta” para interessados de maior poder aquisitivo, esse é caso de áreas do Saco do Mamanguá, por exemplo; ou o crescimento urbano desordenado em áreas de praia, como aconteceu na Trindade. Sem lugar e condições adequadas de moradia, parte da população tradicional acaba por migrar para a cidade, atraídos muitas vezes pela possibilidade de emprego em alguma atividade ligada ao turismo, para morar em bairros populares da periferia, como a Ilha das Cobras e a Mangueira.

No entorno do Centro Histórico de Paraty se formou uma nova cidade, com residências, comércios e outros serviços, que se estruturaram em vários bairros marcados pela falta de planejamento e ordenamento urbano. Uma cidade caótica, com construções pouco harmônicas, entre ruas empoeiradas, intensa circulação de veículos e a poluição visual provocada por uma infinidade de placas de propaganda e de informação.


Os Atrativos do Turismo Cultural de Paraty

Para a elaboração dessa etapa da análise foi realizado um levantamento dos atrativos e produtos do segmento de turismo cultural de Paraty, que teve como base e referência:

  • O inventário Turístico do Plano Diretor de Desenvolvimento Turístico do Município de Paraty (2003)
  • A oferta turística de Paraty disponibilizada pelas agências de receptivo e pelas operadoras de turismo; e

Os dados levantados foram organizados em um banco de dados e uma pesquisa complementar foi realizada sobre cada atrativo, visando identificar qual é a disponibilidade de informação a respeito do mesmo, bem como ampliar a compreensão de suas características.

Os procedimentos adotados nessa fase foram:

  • Entrevistas com estudiosos e técnicos de Paraty como o historiador Diuner Melo e o arquiteto Júlio Cezar do IPHAN, entre outros
  • Visita técnica dos consultores aos atrativos, a exceção dos eventos, em função do período em que este projeto está sendo realizado
  • Pesquisa em fontes secundárias: livros de referência sobre cada tema, matérias de jornais, folhetos e páginas específicas da internet.

O conjunto de produtos de turismo ofertados pelas agências de receptivo em Paraty é relativamente diversificado. São oferecidas as atividades mais convencionais como o city tour pelo Centro Histórico, mas também produtos relacionados à cultura imaterial como vivência de culturas tradicionais, passeios pelo caminho do ouro, entre outros.

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Paraty é uma oferta disponível no catálogo das operadoras, 86% das empresas entrevistas informaram trabalhar com o destino. No entanto, a operação ocorre predominantemente quando há demanda do cliente, 79% das vendas acontecem apenas nesse contexto. Na prática, isso significa que o mercado formal do turismo conhece e tem estrutura comercial para vender Paraty e seus produtos turísticos, mas que não é, nesse momento, uma prioridade das operadoras em termos da exposição do produto, do esforço de venda para o cliente.

A pesquisa indica que as operadoras trabalham poucas ofertas concretas de Paraty. Os produtos disponíveis nas prateleiras são predominantemente as atividades de sol e praia “ilhas/praias”, 61% dos entrevistados informaram que essas são ofertas que constam de seu portfólio, seguidas pelo “city tour” e “hospedagem, com 50% e 43% de incidência respectivamente. É interessante observar, que apesar da assertiva sobre o conhecimento do destino, existe ainda uma certa confusão dos operadores sobre o que de fato Paraty oferece, tanto que Pinciguaba (em Ubatuba) aparece com 7% das indicações de oferta.

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Quando questionados sobre os fatores diferenciais de Paraty como destino turístico, os operadores destacam também os temas da cultura ou a ela relacionados.

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Para 21% dos operadores ouvidos pela pesquisa, o "mix" cultura & natureza é o principal fator diferencial de Paraty. Mas são os temas do universo cultural – identificados na arquitetura, história, gastronomia, cidade histórica, eventos culturais e o charme da cidade os seus fatores diferenciais – que engloba 57% das opiniões dos entrevistados.

A Seleção dos Atrativos e Produtos do Turismo Cultural de Paraty

O Inventário do Plano Diretor do Desenvolvimento Turístico de Paraty indica a existência de 375 atrativos naturais e 57 atrativos culturais.

Para os objetivos deste planejamento, será considerado exclusivamente o conjunto do Patrimônio Cultural: 22 edificações históricas, incluindo 3 fazendas fora do Centro Histórico, 32 eventos, entre os quais 8 festas religiosas tradicionais que fazem parte do calendário anual da cidade e integram outras formas de expressão e/ou manifestação – música, gastronomia, etc. A estes se somam a produção cultural – o artesanato, as artes, a pinga, a gastronomia, entre outros –, os modos de vida e os modos de fazer das populações tradicionais.

Para este Plano de Desenvolvimento do Turismo Cultural de Paraty foram considerados outros aspectos dos atrativos culturais, tendo como referência as definições de cultura em seu sentido antropológico e de patrimônio. O conceito de patrimônio cultural – tangível e intangível – considera a essência de um povo, de sua identidade: o que se herda, vivência e se deixa de herança. “Patrimônio” é um conceito amplo, é dinâmico, e em construção.

Em 1972, a Conferência Geral da ONU para a Educação, Ciência e Cultura firmou a Convenção Sobre Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural e em 1998, a Conferência Intergovernamental sobre Políticas Culturais para o Desenvolvimento (UNESCO) amplia o conceito de “patrimônio” incluindo também os aspectos imateriais herdados ou criados pela sociedade.

De forma resumida, esta análise considerou todos os recursos do conjunto do patrimônio cultural de Paraty. Entre os inúmeros atrativos existentes, destaca-se o importante sítio histórico, conjunto arquitetônico harmonioso e singular no contexto da arquitetura colonial brasileira, reconhecido pelo IPHAN como Patrimônio Histórico Nacional.

A singela paisagem cultural – edificações, os caminhos históricos, a baía, a Mata Atlântica. As populações tradicionais, seus modos de vida e modos de fazer, sobretudo no relacionamento com o patrimônio natural de Paraty, na sustentabilidade dos recursos naturais, suas ricas tradições, manifestações e formas de expressão, que se traduzem em festas, danças, na produção artística e artesanal, na culinária, entre outros.

 

 

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Plano de Desenvolvimento do Turismo Cultural de Paraty