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Meio Biótico, Flora

 

Figura 8: Imagem de detalhe dos domínio do Ecossistemas Brasileiro. Fonte: IBGE.

A região encontra-se inserida no domínio Mata Atlântica. Tradicionalmente, o termo Mata Atlântica tem sido usado para designar todo, ou parte, de um contínuo de formações predominantemente florestais que se estendia continuamente pela região leste da América do Sul junto a sua costa atlântica.

Tais florestas cobriam originalmente cerca de 1.315.460 km² o que correspondia a aproximadamente 15% do território nacional.

A Mata Atlântica é uma das florestas mais ricas em biodiversidade de plantas no Planeta e detém o recorde de plantas lenhosas (angiospermas) por hectare (450 espécies no Sul da Bahia), cerca de 20 mil espécies vegetais, sendo 8 mil delas endêmicas, além de recordes de quantidade de espécies e endemismo em vários outros grupos de plantas. Tal diversidade e grau de endemismo variam, já que ela não se constitui em uma formação vegetal homogênea, com variações na riqueza de espécies devido a fatores como latitude, altitude, precipitação e solo, apresentando uma variedade de formações, que engloba um diversificado conjunto de ecossistemas florestais com estrutura e composições florísticas bastante diferenciadas, definidas e denominadas pela Lei da Mata Atlântica (2006): Floresta Ombrófila Densa, Floresta Ombrófila Mista, também denominada de Mata de Araucárias, Floresta Ombrófila Aberta, Floresta Estacional Semidecidual, e Floresta Estacional Decidual, Manguezais, Restinga e campos de altitude, brejos interioranos e encraves florestais do Nordeste.

Estima-se que na Mata Atlântica possam ocorrer entre 1% e 8% de todas as espécies do planeta. Embora estimativas atualizadas e criteriosamente compiladas sejam escassas para a maior parte dos grupos, a literatura aponta que ocorrem dentro do domínio em torno de 20.000 espécies de plantas vasculares, 350 de peixes de água doce, 340 anfíbios, 197 répteis, 250 mamíferos e 893 aves, das quais 8.000, 133, 90, 60, 55 e 215 espécies, respectivamente, seriam endêmicas do domínio.

Tão surpreendente quanto o seu quadro de megabiodiversidade, é o estado crítico de conservação em que se encontra um grande número das espécies da Mata Atlântica. Das 627 espécies consideradas na lista brasileira da fauna ameaçada, 380 ocorrem na Mata Atlântica. Essa situação é consequência de um estado alarmante de degradação ambiental ocasionado por sucessivos ciclos de exploração predatória dos seus recursos que se iniciaram logo após a invasão do Brasil pelos europeus e incluíram atividades de extrativismo, agropecuária, mineração e ocupação urbana.

Atualmente, a Mata Atlântica encontra-se reduzida a remanescentes isolados de diferentes tamanhos que, somados, atingem apenas entre 8,5%, cerca de 12% de sua extensão original. Não por acaso, diversas análises e rankings conservacionistas apontam a Mata Atlântica como uma das regiões mais ameaçadas de todo o planeta, colocando-a no topo da lista de prioridades global de pesquisa e conservação da biodiversidade.

De acordo com projeções históricas, estima-se que originalmente 97% da área do Estado do Rio de Janeiro eram coberta pela Mata Atlântica. (Fundação S.O.S. Mata Atlântica/INPE, 2002).

Além de ser um dos estados brasileiros com ocupação mais antiga, o Rio de Janeiro passou por diversos ciclos econômicos baseados em grandes monoculturas, como café e cana-de-açúcar, dessa forma sua vegetação original foram sendo progressivamente eliminada e descaracterizada, restando atualmente aproximadamente 20% em relação àquela existente originalmente no estado. Por abrigar as maiores extensões de florestas contínuas do Estado do Rio de Janeio, a região litorânea localizada no extremo sul do estado, a chamada “Costa Verde”, constitui um importante reduto para biodiversidade da Mata Atlântica fluminense.

Iniciando nas restingas a beira mar, seguindo por remanescentes localizados sobre a planície costeira e subindo as escarpas da Serra do Mar até os campos de altitude da Bocaina, em alguns locais da Costa Verde, como o município de Paraty, a Mata Atlântica estende-se continuamente desde o nível do mar a até cerca de 2.000 metros de altitude. Diferentes formações florestais se distribuem ao longo deste gradiente altitudinal, incluindo restinga, floresta de terras baixas, floresta submontana, floresta montana, floresta altomontana e campos de altitude. Cada uma dessas formações possui uma biodiversidade característica fazendo com que muitas espécies estejam restritas a determinadas cotas de altitude. Além das espécies tipicamente florestais a presença de diversos elementos associados a ecossistemas costeiros marinhos, como manguezais e costões rochosos, muitos deles presentes apenas sazonalmente na região, e também a ambientes abertos antropizados, como áreas de pastagem, contribuem para aumentar ainda mais a riqueza de espécies da “Costa Verde”, tornando-a uma das regiões mais importantes para conservação da biodiversidade da Mata Atlântica, não apenas em um contexto estadual, mas para o domínio como um todo.

Segundo o Atlas do SOS Mata Atlânticas a vegetação predominante na região de Paraty é a Floresta Ombrófila Densa, conforme figura abaixo.

Figura 9: Mapa de detalhe da fisionomia da vegetal na região de Paraty - RJ. Fonte: SOS Mata Atlântica.

 

Flora

A flora representa o conjunto de vegetais que compõe a cobertura vegetal de uma determinada área e está relacionada com as funções de regulação ambiental, ecológica, na conservação da água, do solo e da biodiversidade. Esta é um recurso de enorme valor, já que cada planta tem sua importância no conjunto de organismos vivos (biodiversidade) nos diferentes ecossistemas. Há séculos que a região de estudo sofreu e sofre com as devastações em sua cobertura vegetal nativa (para agricultura, estradas e expansão urbana). Tais explorações propiciam a redução do fluxo de animais nativos, pólen e sementes, sendo as principais consequências da fragmentação de origem biótica a perda da biodiversidade, da diversidade genética, redução da densidade ou abundância e alteração da estrutura da vegetação, podendo ocasionar a extinção de espécies.

Para a caracterização de uma vegetação, considera-se, entre outros aspectos, sua sucessão ecológica, que é a denominação conferida ao fenômeno que ocorre nos ecossistemas após a destruição parcial da comunidade original. Neste processo de sucessão, ocorre uma progressiva mudança na composição florística da floresta, partindo de espécies pioneiras, passando por espécies secundárias iniciais ou tardias e chegando às denominadas espécies climáx. Por exemplo, a derrubada de florestas ou terrenos agricultáveis já abandonados, dá lugar a sucessões ecológicas de diferentes espécies vegetais, formando ecossistemas diferentes dos originais e frequentemente em desequilíbrio.

O objetivo deste estudo é caracterizar a vegetação do Morro do Forte, com a premissa de fornecer subsídios para projetos de atividades turísticas, de educação ambiental e conservacionistas.

5.1.1 Materiais e Métodos

Para Caracterização Inicial da Paisagem utilizou-se de imagens de satélite (Google Earth) e do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica (SOS Mata Atlântica), através das quais, por apresentarem baixa resolução, possibilitaram delinear apenas a cobertura vegetal.

 

Figura 10: Imagem de detalhe da Área de Estudo. Fonte: Google Earth.

A ausência de estudos e informações quanto à florística da região de Paraty e principalmente do Morro do Forte, tornou necessário o estudo de campo, para o qual se optou por realizar um levantamento simplificado da vegetação tentando abranger ao máximo da área. Utilizou-se a metodologia de amostragem pontual para verificar tipos vegetacionais e identificar grupos florísticos dominantes, adaptando o conceito de transecção irregular, percorrendo as trilhas e acessos existentes na área amostral e anotando principalmente as espécies arbóreas existentes. As visitas foram realizadas nos dias 17 a 22 de agosto de 2014 no período de 6 horas por dia.

5.1.2 Resultados e Discussão

Analisando as imagens de satélite do Munícipio de Paraty observamos que o mesmo tem a maior parte de seu território coberto por vegetação “natural”, segundo Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica 2010-2011 (SOS Mata Atlântica), ilustrado na figura abaixo.

Figura 11: Mapa de detalhe do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica. Fonte: SOS Mata Atlântica.

A área de estudo localiza-se no extremo sul do Estado do Rio de Janeiro na região denominada Costa Verde, a qual abriga uma das maiores extensões de florestas contínuas da região litorânea e constitui importante reduto para biodiversidade da Mata Atlântica, destacando as unidades de conservação, Parque Nacional da Serra da Bocaina e Área de Preservação Ambiental Cairuçu - APA do Cairuçu.

 

Figura 12: Mapa de detalhe da localização do Munícipio de Paraty, sede do Parque Nacional da Serra da Bocaina e APA Cairuçu. Fonte: ICMBio Mapa de unidades de conservação.

A conservação da biodiversidade representa um dos maiores desafios deste final de século, em função do elevado nível de perturbações antrópicas dos ecossistemas naturais. Conquanto haja grandes extensões de florestas contínuas neste município, o mesmo também possui fragmentos florestais isolados. Tais fragmentos são importantes para diversos grupos faunísticos, os quais os utilizam para habitat, ampliação de seu território, recursos alimentares, abrigo ou descanso durante processo migratório (trampolim), entre a serra do mar, florestas baixas, manguezais e a costa marinha. A circulação de animais nos fragmentos contribui para o equilíbrio ambiental e ecológico da fauna e flora, propiciando o fluxo gênico.

Analisando a paisagem da área urbana do município de Paraty destacamos um importante fragmento florestal de 12 hectares situado sobre o Morro do Forte, e na sua jusante outro fragmento de aproximadamente 13 hectares contínuos e em contato com o manguezal, na margem direita da foz do Rio Perequê-Açu. Ambos os fragmentos estão demarcados no Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica 2010-2011 (SOS Mata Atlantica), descrevendo a cobertura vegetal como mata e manguezal.

 

Figura 13: Mapa de detalhe do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica. Fonte: SOS Mata Atlântica.

Analisando a flora in loco podemos constatar a ocorrência de espécies de diferentes ecossistemas, como de florestas ombrófila densa, florestas estacional semidecidual, costão, restinga e manguezal, ambos se interagem buscando o reequilíbrio ambiental.

O fato da área ser antropizada, pode-se classificá-la como floresta secundária, a qual se encontra em processo de regeneração natural. As características da vegetação florestal presente na área de estudo pode ser definida de modo geral como Floresta Ombrófila de Terras Baixas, em estágio médio de regeneração natural com clareiras em estágio inicial. Neste estudo mapeamos a ocupação atual do morro e classificamos a vegetação que ocorre no local.

 

Figura 14: Mapa de detalhe de uso e ocupação do solo da área de estudo.

As espécies arbóreas nativas e exóticas que se destacam estão descritas nas tabelas abaixo.

 

Tabela 1: Lista das espécies arbóreas nativas de maior destaque na área.

 

LISTA DAS ESPÉCIES ARBÓREAS NATIVAS FAMÍLIA NOME CIENTÍFICO NOME POPULAR

Anacardiaceae Schinus terebinthifolius aroeira-pimenteira Araliaceae Schefflera morototoni Morototó Arecaceae Astrocaryum aculeatissimum ariri-açu Arecaceae Syagrus romanzoffiana Jerivá Bignoniaceae Sparattosperma leucanthum cinco-folhas Calophyllaceae Calophyllum brasiliense Guanandi Cannabaceae Trema micranta pau-pólvora Fabaceae Faboideae Machaerium hirtum jacarandá-bico-de-pato Fabaceae -Mimosoideae Piptadenia gonoacantha pau-jacaré Fabaceae-Caesalpinioideae schizolobium parahyba Guapuruvu Fabaceae-Mimosoideae Ing sessilis Ingá Lauraceae Nectandra megapotamica Canela Lauraceae Nectandra sp Canela Lauraceae Ocotea sp Canela Lauraceae Persea sp Canela Melastomaceae Miconia cinnamomifolia Jacatirão Meliaceae Cedrela fissilis Cedro Moraceae Ficus clusiifolia Figueira Moraceae Ficus sp figueira-branca Moraceae Maclura tinctoria Taiúva Myrtaceae Eugenia brasiliensis Grumixama Myrtaceae Eugenia uniflora Pitanga Myrtaceae Myrcia multiflora Cambuí Myrtaceae Psidium guajava goiabeira Poaceae Bambusa sp Bambu Primulaceae Rapanea parvifolia Capororoca Rutaceae Zanthoxylum caribaeum Mamiqueira Sapindaceae Sapindus saponaria sabão-de-soldado Urticaceae Cecropia glaziovii Embaúba Urticaceae Cecropia hololeuca Embaúba Tabela 2: Lista das espécies arbórea nativa introduzida, de maior destaque na área. LISTA DAS ESPÉCIES ARBÓREAS NATIVAS INTRODUZIDAS FAMÍLIA NOME CIENTÍFICO NOME POPULAR Malpighiaceae Lophanthera lactescens lofantera-da-amazonia Malvaceae Theobroma cacao Cacau Malvaceae Theobroma grandiflorum Cupuaçu Tabela 3: Lista das espécies exóticas de maior destaque na área. LISTA DAS ESPÉCIES ARBÓREAS EXÓTICAS FAMÍLIA NOME CIENTÍFICO NOME POPULAR Anacardiaceae Mangifera indica Manga Arecaceae Roystonea oleracea palmeira imperial Lauraceae Persea americana Abacateiro Moraceae Artocarpus integrifólia Jaca Nyctaginaceae Bougainvillea glabra Primavera Rubiaceae Coffea arábica Café Sapotaceae Mimusopsis coriácea abricó-da-praia Figura 15: Imagens (1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7) de detalhe dos ambientes utilizados para o levantamento de flora. Outras espécies de plantas como: herbáceas, epífitas, suculentas e bromélias, nativas e exóticas são encontradas na área, como pode ser visualizado na tabela abaixo. Tabela 4: Lista das espécies herbáceas, epífitas, suculentas e bromélias maior destaque na área. LISTA DAS ESPÉCIES HERBÁCEAS / EPÍFITAS / SUCULENTAS E BROMÉLIAS FAMÍLIA NOME CIENTÍFICO NOME POPULAR Araceae Philodendron cordatum Imbê-da-praia Araceae Philodendron hederaceum Filodendro-cordato Araceae Philodendron speciosum Filodendro-brasil Araceae Philodendron undulatum Guaimbê-da-folha-ondulada Bromeliaceae Aechmea distichantha Bromélia Bromeliaceae Neoregelia compacta Bromélia Bromeliaceae Nidularium innocentii Bromélia Bromeliaceae Nidularium purpureum Bromélia Bromeliaceae Tillandsia aeranthos Bromélia Bromeliaceae Tillandsia crocata Bromélia Bromeliaceae Tillandsia gardnerii Bromélia Bromeliaceae Tillandsia usneoides Bromélia Bromeliaceae Vriesea rodigasiana Bromélia Bromeliaceae Vriesea vagans Bromélia Cactaceae Rhipsalis bacífera Cacto-macarrão Heliconiaceae Heliconia rostrata Caetê Orchidaceae Dichaea pendula Orquídea Orchidaceae Epidendrum rigidum Orquídea Piperaceae Piper aduncum Piper No local foi possível mapear as trilhas do morro do forte (Figura 16). Figura 16: Mapa de detalhe das trilhas da área de estudo. Nas trilhas identificamos grupos florísticos dominantes, como de restinga e manguezal. Figura 17: Mapa de detalhe dos grupos florísticos dominantes. Figura 18: Imagens (8, 9, 10 e 11) de detalhe da Vegetação característica de Restinga. Figura 19: Imagens (12, 13, 14 e 15) de detalhe da vegetação característica de manguezal. Outro grupo florístico que se destaca no local é das bromélias, as quais são facilmente visualizadas, apresentando diferentes espécies. Este grupo chama atenção dos turistas por sua beleza e quantidade, além da significância ecológica para este ecossistema, pois destas plantas dependem os ciclos de vida de uma série de animais como pequenos anfíbios e insetos. A incidência deste grupo está correlacionada com a umidade destacando três pontos de maior abundância, delimitados no croqui abaixo. Figura 20: Mapa de detalhe da área de maior abundância de bromélias. Figura 21: Vriesea vagans. Figura 22: Aechmea distichantha . Figura 23: Epidendrum rigidum. Figura 24: Tillandsia usneoides. Figura 25: Neoregelia compacta. Figura 26: Philodendron speciosum, Philodendron cordatum. Figura 27: Vriesea rodigasiana, Vriesea sp, Tillandsia gardnerii, Tillandsia aeranthos. Figura 28: Neoregelia compacta, Vriesea rodigasiana e Vriesea vagans. Figura 29: Neoregelia compacta, Vriesea rodigasiana e Vriesea vagans. Figura 30: Vriesea rodigasiana Ressalta-se que a degradação da vegetação natural outrora ocasionada durante o processo de ocupação do Morro, e posteriormente o abandono da área, proporcionou a regeneração natural do local e a sucessão ecológica, formando uma comunidade vegetal diferente da natural. Esta comunidade se encontra em desequilíbrio devido à perturbação humana e com o dossel tomado por lianas (cipós). No interior do fragmento é comum encontrar clareiras e emaranhados de lianas, inclusive em árvores com a copa danificada. Apesar de haver poucos estudos sobre as relações das comunidades de lianas, é sabido que as mesmas aumentam as taxas de mortalidade de árvores pelo efeito combinado de peso sobre a copa e sombreamento excessivo, além de aumentar o tamanho das clareiras abertas pela derrubada simultânea de outras árvores interconectadas. Figura 31: Imagens (16, 17, 18 e 19) de detalhes da incidências de lianas. Em florestas alteradas e em fragmentos florestais degradados, geralmente a abundância de cipós aumenta, podendo atingir níveis onde os mecanismos de auto-regulação, ou homeostase do ecossistema, seja comprometido, não sendo suficiente para evitar processos irreversíveis de degradação estrutural e funcional. Nestes casos, mesmo que a presença de lianas não seja a causa primária da degradação, podem estar contribuindo para este processo, e, portanto o seu controle tem sido recomendado como ferramenta de manejo conservacionista.